Cantor, compositor, escritor (para adultos e crianças), actor (de teatro e cinema), realizador, Sérgio Godinho é, para citar uma das suas canções clássicas, o verdadeiro “homem dos sete instrumentos”. Mas, numa carreira artística de invejável longevidade, que se prolonga há mais de 40 anos de modo quase intocável, foi o seu trabalho enquanto cantor-compositor que o tornou num ícone capaz de reunir à volta das suas canções gerações de diferentes idades, vivências e aspirações.
“O Primeiro Dia”, “A Noite Passada”, “É Terça-Feira”, “Com um Brilhozinho nos Olhos”, “Espectáculo”, “Cuidado com as Imitações”, “Lisboa que Amanhece”, “Liberdade”, “Coro das Velhas”, “Dancemos no Mundo”, “Barnabé”, “O Velho Samurai” para apenas citar uma dúzia, atestam o seu talento para traduzir de modo pessoal, numa conjugação inseparável de palavras e melodias, experiências e emoções universais.
Sérgio Godinho não se centra apenas na música, aliás, no início dos anos 70, participa como actor durante quase dois anos, na produção parisiense do musical “Hair” e em 2008 estreia “Onde Vamos Morar” de José Maria Vieira Mendes, com encenação de Jorge Silva Melo, que esteve em cena em Lisboa e depois percorreu o país em digressão. É também na área infantil que se destaca, por exemplo, compondo temas para séries televisivas (“Os Amigos de Gaspar”, “Árvore dos Patafúrdios”) ou escrevendo a peça de teatro “Eu, tu ele nós vós eles” em 1980, premiada pela Secretaria de Estado da Cultura.
O cantautor também se revelou na escrita, não só de obras infanto-juvenis como “A Caixa” e “O Pequeno Livro dos Medos” (cujas ilustrações também lhe pertencem), como na poesia com a edição em 2009 de “O Sangue Por Um Fio”. É de destacar ainda a edição de “60 Canções de Sérgio Godinho” – um dos primeiros livros de partituras a ser editado em Portugal e a sua biografia musical, “Retrovisor”, escrita por Nuno Galopim.
Em Outubro de 2009, juntou-se a José Mário Branco e a Fausto Bordalo Dias para quatro noites que ficarão na história da música portuguesa – Três Cantos. Foram quatro noites com lotação esgotada no Campo Pequeno e Coliseu do Porto. Este reencontro ficou registado em CD e DVD com a edição de “Três Cantos ao Vivo”, que, na sua semana de edição, atingiu o Galardão de Ouro.
“Mútuo Consentimento” foi lançado em Setembro de 2011 e entrou directamente para o nº1 do Top Nacional de Vendas. No ano em que passaram 40 anos da edição de “Os Sobreviventes”, o primeiro longa duração da sua carreira, Sérgio Godinho olhou em frente e apresentou-nos um disco constituído por 11 novas canções como só ele nos sabe oferecer. Gravado em Março e Abril do ano passado, “Mútuo Consentimento”, revelou algumas parcerias inéditas: Bernardo Sassetti, Noiserv, Francisca Cortesão (aka Minta), o percussionista António Serginho (Foge Foge Bandido) e a Roda de Choro de Lisboa são alguns dos que se juntaram à banda que tem acompanhado Sérgio Godinho nos últimos anos – “Os Assessores”.
Ainda em 2011, em Novembro, iniciou as apresentações ao vivo de “Mútuo Consentimento” com espectáculos nos Coliseus do Porto e Lisboa a que se seguiu itinerância pelo país que se prolonga até ao presente ano.
A par da publicação de “Mútuo Consentimento”, a comemoração dos 40 anos de actividade musical, foi ainda celebrada pela edição do livro “Sérgio Godinho e as 40 Ilustrações”, onde as suas letras são “revistas” por outros tantos ilustradores; e, já em 2012, o livro de crónicas “Caríssimas 40 Canções”, centrado na “canções dos outros”, num olhar pessoal e rememorativo dos intérpretes e autores que marcaram o seu percurso.
Em 2013, foi galardoado com o “Prémio Tenco” promovido pela associação cultural italiana “Cosi Di Amilcare” e, tendo como ponto de partida o livro de crónicas, concebeu e apresentou no Centro Cultural de Belém e na Casa da Música, o espectáculo “Caríssimas Canções” para o qual contou com a colaboração de Hélder Gonçalves, Manuela Azevedo e Nuno Rafael. A gravação destas apresentações foi publicada em CD em Dezembro de 2013 acompanhando uma pequena temporada de concertos no país.
O presente ano iniciou-se com a composição da banda sonora para “Tropa-Fandanga”, `”uma revista à portuguesa do Teatro de Praga”, estreada em Fevereiro no Teatro Nacional D. Maria II e para a qual Sérgio Godinho teve a oportunidade de escrever alguns originais. Em Abril, estreou no São Luiz Teatro Municipal “Liberdade”, um espectáculo criado a propósito da passagem do 40º aniversário do 25 de Abril de 1974 e em que a par de revisitar a sua obra, apresentou alguns temas inéditos. Depois de três apresentações lotadas no São Luiz, o espectáculo partiu em digressão, que se mantém, dando origem a mais um registo ao vivo de Sérgio Godinho, o disco “Liberdade” chegado ao mercado no Natal de 2014.
Também em 2014, no último trimestre, Sérgio Godinho publicou “Vidadupla”, a sua primeira publicação na área do conto, sucedendo assim às edições de poesia e infanto-juvenis. “Vidadupla” confirma e destaca a posição privilegiada que o “escritor de canções” (mas também de “poesia e contos”) ocupa na escrita em português.
Irrequieto e aventureiro, Sérgio Godinho guardou para 2015 algo que há muito projectava viesse a suceder – a partilha de palco com Jorge Palma. Assim, em Maio, tem lugar no Centro Cultural Olga Cadaval, a estreia de “JUNTOS”, o projecto que “juntou” em palco dois nomes maiores da música nacional e que foi fixado para a posteridade no CD+DVD captado no Theatro Circo em Braga, divulgado ao grande público no final de 2015.
A par deste projecto, Sérgio Godinho tem apresentado o espectáculo “Liberdade” por todo o país e ainda fora de fronteiras, em Macau e Espanha.